segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Uma editora com história para contar

Na edição de agosto de 2012 da Revista Metáfora (Editora Segmento), sai uma breve resenha que escrevi sobre o livro A Globo da rua da Praia, de José Otávio Bertaso (Globo Livros, 2ª ed., 2012).


O texto está aqui

sábado, 11 de agosto de 2012

Lições paternas

Todos têm uma história a contar (ou para descobrir) sobre seu pai. As lições paternas podem ser silenciosas, difíceis, estranhas, podem ser carinhosas, profundas, talvez envolvidas pela sacralidade — enfim, sempre marcantes.

Em 2006, o jornalista Luís Colombini publicou Aprendi com meu pai, pela Editora Versar. A segunda edição saiu pela Editora Saraiva (2011). São 54 relatos, alguns muito sinceros, outros (aparentemente) influenciados por aquela nostalgia que pode tornar a realidade passada menos crua (cruel), ou menos insossa.

O modo como um pai lida com o dinheiro, as manias de um pai, os princípios éticos de um pai, seus momentos de vitória e de fracasso, a generosidade de um pai, o modo como um pai se expressa, olha, vive, morre, o legado de um pai, tudo aquilo que reconhecemos em nós e, na verdade, era nele característica inconfundível...

Além do livro, uma ideia para os leitores. No site aprendi com meu pai, o leitor vira escritor. Fica a sugestão... para um presente no Dia dos Pais do ano que vem!


sábado, 28 de julho de 2012

A dois passos do Paraíso

Jornalistas que sabem pesquisar e escrever podem apresentar bons trabalhos de divulgação (e até de reflexão) sobre temas relevantes e... transcendentes. Um exemplo é Paraíso: nossa eterna fascinação com a pós-vida, de Lisa Miller. O livro saiu pela editora Nossa Cultura, em 2011.

Entrevistando representantes de diferentes religiões, consultando obras e pesquisadores com visões de mundo (e de vida post mortem) divergentes, analisando pinturas e filmes, relatando histórias de gente como a gente, e falando um pouco sobre sua própria realidade religiosa, a autora constata o denominador comum: a maioria das pessoas, mais ou menos conscientemente, está à procura ou à espera do Paraíso.

O contexto norte-americano deste trabalho não poderia ser outro. Jornalistas tendem a ver tudo de um ponto de vista mais concreto e contemporâneo. Não são filósofos. Os leitores brasileiros terão de fazer suas próprias pesquisas e reflexões, pois temos outra história e outras experiências paradisíacas e/ou infernais...

Não é livro de teologia ou espiritualidade, mas serve como um bom ponto de partida.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Apelidos literários

Há dicionários para tudo, mas sempre se pode inventar um novo. Acabei de adquirir o Dicionário de apelidos dos escritores da literatura brasileira, de Claudio Cezar Henriques, pela Editora curitibana Appris (2012).

Apelidos elogiosos como "Pai do Romance Brasileiro" para José de Alencar; ou como "Príncipe dos Poetas Brasileiros", compartilhado por Guilherme de Almeida, Paulo Bonfim, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Olegário Mariano e Menotti del Picchia! Para que tantos príncipes, meu Deus?, perguntaria Carlos Drummond de Andrade (cujo apelido era o "Poeta das Sete Faces")! Mas meus olhos não perguntam nada...


Raquel de Queiroz
E uma segunda pergunta: quem serão os reis e rainhas da poesia? "Rainha das Escritoras Brasileiras" foi o apelido de Raquel de Queiroz.

Outros apelidos são menos nobres... como "Boca do Inferno", para Gregório de Matos, "Ratazana ao Molho Pardo", que Oswald de Andrade inventou contra o poeta Cassiano Ricardo (um caso típico de bullying literário), "Sir Ney" para José Sarney, e um hilariante "Tristinho de Ataúde", para Alceu Amoroso Lima, que usou o nome literário Tristão de Athayde.


Fabrício Carpinejar
Alguns são apelidos que serviriam perfeitamente para mais de um. "Médico-poeta", para Pedro Nava, serviria também no caso de Jorge de Lima. "Grande Poeta das Coisas Pequenas", para Manoel de Barros, cairia muito bem em outro poeta, Manuel Bandeira.

O dicionário também poderia inventar uns apelidos... A título de sugestão, chamar Fabrício Carpinejar de o "Mais Belo dos Feios", e Marcelino Freire seria o "Contista de Sertânia".

Os apelidos de que mais gosto são "Vampiro de Curitiba", para Dalton Trevisan, "Poetinha" para Vinicius de Moraes (que, não me lembro quem, brincando, dizia que era de "Imoraes") e "Dante negro" para Cruz e Sousa.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Sem filosofia... nem pensar!

Vou à livraria e a vejo invadida pela filosofia. Pela divulgação de filosofia, sendo mais preciso.

Com capa amarela "cheguei", desde 2011, está em evidência O livro da filosofia, da Editora Globo. Um livro de vários autores: Will Buckingham, Peter King e outros.

Como de praxe, no início era Tales, nascido em Mileto no século VII a.C. Mas não se restringe aos gregos. Menciona Confúcio e Buda. Como também é de praxe, o período medieval recebe modesta atenção, embora  devamos aplaudir o merecido destaque ao grande Tomás de Aquino.

A partir do século XVI, o desfile tradicional: Maquiavel, Bacon, Descartes, Hobbes, Pascal, Espinosa, Locke, Leibniz, Voltaire, Kant, Hegel, Kierkegaard, Marx, William James, Nietzsche, Husserl, Heidegger, Popper, Sartre, Camus, Wittgenstein, Carnap, Gadamer, Adorno, Levinas...

Um detalhe importante neste livro é a inclusão de nomes mais recentes e não tão conhecidos. São eles: Arne Naess (filósofo norueguês), Mary Midgley (pensadora britânica), Paul Feyerabend (austríaco), Thomas Kuhn, John Rawls e Richard Rorty (norte-americanos), Derrida e Lyotard (franceses), Julia Kristeva (filósofa búlgara), Henry Oruka (filósofo queniano) e Slavoj Žižek (esloveno).

A capa amarelona, com desenhos e frases que sintetizam vários sistemas de pensamento, nos convida a entrar. E, lá dentro, páginas vermelhas, azuis, verdes, diagramação boa, viva, muita ilustração, e as informações essenciais bem explicadas.

Mas a invasão filosófica, ou de iniciação filosófica, continua. Com capas atraentes, em busca de um público que já superou os livros de autoajuda.

Neste primeiro semestre de 2012, vários títulos chegaram e são fáceis de achar... e ler.

Leya lança Filosofia em 60 segundos, de Andrew Pessin, uma vez que o tempo é tão curto, e estamos tão apressados. A Civilização Brasileira lança Casos filosóficos, de Martin Cohen, mostrando a realidade comezinha, tantas vezes mesquinha, por trás dos grandes textos. A Difel lança Um passeio pela antiguidade: na companhia de Sócrates, Epicuro, Sêneca e outros pensadores, de Roger-Pol Droit, palatável. Desse mesmo autor, temos Filosofia em cinco lições, pela Nova Fronteira.


São textos para despertar o ser pensante que há em você, prezada leitora, estimado leitor! São aperitivos para maiores banquetes. Iscas para outros petiscos. Fast-food para posteriores manjares.

Se tiver 60 segundos, leia. Se quiser cinco lições, são apenas cinco. Se quiser passear, pegue sua bicicleta reflexiva. Se quiser ouvir alguns casos, senta... que lá vem filosofia! E, sem filosofia, nem pensar!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

E aí... já leu?

José Paulo Paes publicou em 1990, pela Companhia das Letras, Poesia erótica em tradução. O livro agradou e se esgotou. Foi relançado pela mesma editora, em 2006, na coleção Companhia de Bolso.

Poemas eróticos de Ronsard, Neruda, Goethe, Baudelaire, Apollinaire, Ovídio e outros tantos. E aí... já leu? Pequenas obras-primas, traduzidas com vigor e maestria, do grego, do latim, do espanhol, do francês, do inglês, do alemão. 

Para quem gosta de ler, erótico mesmo é pegar uma edição esgotada. Aquela que, daqui a 100 anos, será um raro prazer procurar, encontrar e folhear.

A edição que está por aí, mais recente, com todo respeito, circulando de mão em mão, ainda é coisa fácil de se comprar, não tem o mesmo peso, a mesma textura, o mesmo cheiro da antiga.

Possuo na mesma estante as duas edições. A de 1990 não está envergonhada, e considero muito mais atraente.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Doses de Oscar Wilde

Numa postagem de 2011 eu falei brevemente sobre o livro Nietzsche para estressados, de Allan Percy (Editora Sextante, 2011). Desse mesmo autor, temos agora Oscar Wilde para inquietos.

A proposta é a mesma: 99 frases comentadas para fazer o leitor refletir em seu estilo de vida. Se os estressados podem encontrar em Nietzsche critérios para vencer os ressentimentos e as queixas, os inquietos vão descobrir em Wilde que um pouco de elegância e apego ao momento presente ajudam a manter a calma e apreciar as verdadeiras riquezas da vida.

Oscar Wilde era paradoxal, inconveniente, incoerente, irônico, mordaz e crítico implacável das hipocrisias sociais. Amante da beleza e do prazer, denunciava: sabemos o preço de tudo, mas não sabemos o valor de nada!

De fato, algumas doses de Wilde serão úteis para aqueles que passam o dia preocupados e atarefados com tantas coisas importantes e urgentes, mas esquecem de valorizar a única coisa realmente essencial — estar vivo...

sábado, 26 de maio de 2012

Palavras sumidas sempre reaparecem

Hoje em dia ninguém mais deixa o outro no chinelo, ninguém mais fica jururu, ninguém mais usa japona, ninguém mais mora no cafundó do Judas, ninguém mais é muquirana.

Descobri que ainda uso essas palavras ou pelo menos as reconheço facilmente. Mas não pertencem a este nosso tempo, não frequentam nossas conversas reais ou virtuais. Jururu, muquirana e outras tantas palavras andam sumidas, embora reapareçam vez ou outra.

Reaparecem no Pequeno dicionário brasileiro da língua morta, do jornalista Alberto Villas. A Editora Globo acaba de lançar. O autor explica tudo, tim-tim por tim-tim, e ainda traduz as antigas e mortas pelas novas e saltitantes. É que as noções são as mesmas, mudam os termos.

O pirralho virou moleque. O maioral hoje é o cara. O laquê desapareceu, agora é gel. O que antes era gorar agora é micar. O que era estapafúrdio atualmente é bizarro.

Palavras mortas, ou quase mortas. Sumidas, mas de repente voltam. "Bacana" tinha sumido, e não é que voltou? Este livro é bem bacana, morou?

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Errar é autenticamente humano!

Errar não é um episódio esporádico na vida humana. Ao contrário, o ser humano é um ser que se equivoca, é um ser errante, errático, erradio.

Não admitir que erramos ao longo do dia (e todos os dias) é um erro a mais em nosso currículo! Tentar convencer os outros (e a nós mesmos) de que não nos equivocamos constantemente é um novo equívoco!

Somos manipuláveis, falhamos sem perceber (ou sempre temos uma razão que elimina a gravidade de nossas falhas), andamos iludidos até o fim da vida, acreditando, porém, que os outros, sim, estão mergulhados na ignorância, na burrice ou nas más intenções.

Estas frases nasceram de minha leitura de Por que erramos?, de Kathryn Schulz, jornalista e escritora norte-americana. O livro foi publicado em 2011 pela Editora Larousse.

A autora surpreende por seu talento filosófico. Argumenta com segurança, articula informações científicas com fatos históricos, faz o leitor pensar. É uma estudiosa da errologia, ciência (sem pedigree) fundamental para que superemos o perfeccionismo ilusório.

A erróloga Kathryn Schulz
Um trecho (pág. 34) como aperitivo:

Para que o erro nos ajude a ver as coisas de maneira diferente, contudo, temos primeiro de vê-lo de maneira diferente. Esse é o objetivo deste livro: promover uma intimidade com a nossa própria falibilidade, expandir nosso interesse e vocabulário para falar sobre nossos erros e nos determos por algum tempo dentro da normalmente fugaz e efêmera experiência de errar.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Se você quiser xingar alguém...

Não aconselho que as pessoas se insultem, mas se você quiser xingar alguém, então faça com propriedade. Consulte o Dicionário brasileiro de insultos, de Altair Aranha (Ateliê Editorial, 2002).

Eu o comprei faz exatamente dez anos, e garanto sua utilidade. Toda vez que alguém me xinga, vou ver o que o xingador queria dizer exatamente...

Em geral, o mentecapto (estou xingando o xingador de alienado e louco) não sabe a definição correta do xingamento que escolheu e comete uma lamentável imprecisão semântica. E isso é grave. 

Cada insulto deve ser aplicado ao insultado na medida certa.

Chamar alguém de e.t. é dizer que o sujeito é muito estranho, mas chamá-lo de bicho-do-mato é afirmar que se trata de uma pessoa retraída, esquisitona.

O camarada que não sabe insultar revela-se um autêntico desbocado! Um xingamento fajuto não presta, e, se não presta, pode acabar se voltando contra o próprio xingador.

Portanto, sejamos honrados e elegantes: xingar direito é um dever do bom topetudo!


domingo, 15 de abril de 2012

Uma poeta polonesa

Li um poema de Wislawa Szymborska (1923-2012) na ocasião em que esta escritora polonesa ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 1996. No ano passado, a Cia. das Letras publicou uma coletânea de seus poemas, com tradução de Regina Przybycien.


A impressão que tive 15 anos atrás se confirmou. A poeta conhece por dentro o drama de termos nascido humanos. Num de seus poemas, bate à porta da pedra. Pede para entrar. A pedra não abre, alegando que está fechada, que não tem portas, que continuará vivendo de costas para a poeta.


Proibida de entrar no mundo da pedra, também não conseguirá entrar no mundo da folha ou da gota d'água. Pior do que estar num beco sem saída é não poder sequer entrar. Recusas experimentamos sempre.


Para ela, há um ou dois poetas em cada grupo de mil pessoas. Dado intuitivo, impossível de contestar ou corroborar. Mas certamente ela é uma poeta.


E vejam este poema:    


                    
As três palavras mais estranhas

                     Quando pronuncio a palavra Futuro,
                     a primeira sílaba já se perde no passado.

                     Quando pronuncio a palavra Silêncio,
                     suprimo-o.

                     Quando pronuncio a palavra Nada,
                     crio algo que não cabe em nenhum não ser.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Um livro animal

A vida de Pi, de Yann Martel (Editora Nova Fronteira, 2010), é um livro animal. No sentido da gíria, porque é um livro fantástico, fora de série, mas também porque trata de animais... e de seres humanos, perigosos animais que somos.


O protagonista é o garoto indiano Piscine Molitor Patel. Seu apelido é Pi, e sua vida gira em torno de religiões e bichos. Pi aprendeu que num jardim zoológico os animais observam os visitantes humanos com tanta ou maior curiosidade do que nós a eles. E não alimenta a ilusão de que javalis, macacos e elefantes, nas jaulas, estejam em situação pior do que na selva, onde predadores, parasitas e outros perigos tornam tão estressante a vida animal.


O livro se torna ainda mais interessante na parte 2, quando, depois de um naufrágio, Pi se vê num bote salva-vidas, no meio do oceano Pacífico, em convivência forçada com uma hiena traiçoeira, uma zebra, uma orangotango e o terrível (e faminto!) tigre de bengala chamado Richard Parker.


É uma aventura mística, afinal, em que se misturam medo e alegria, dúvida e fé, desespero e esperança. O desenlace surpreende.

terça-feira, 20 de março de 2012

As palavras e seu território

Irandé Antunes
Gostei imensamente do título Território das palavras, recente publicação de Irandé Antunes (Parábola, 2012). A autora é nome importante da reflexão linguística no país. Só por isso já valeria a pena comprar seus livros. Mas o título Território das palavras evoca um lugar a ser conhecido... ou invadido. Comprei o livro atraído pelo título. (Depois, vi que essa expressão foi usada por Lya Luft, Nélida Piñón e outros amantes das palavras.)


Na terra dos homens, há o território das palavras. E na vida escolar, as palavras entram e saem. Muitas andam mais quietas (o Novo Acordo Ortográfico foi um choque para todos), outras são barulhentas, violentas, algumas são nojentas, outras correm contra o vento.


Estudar o idioma não é estudar somente, nem prioritariamente, a gramática normativa. A língua se arrasta, pula, faz careta, transforma-se, mente, mexe com nossa mente.


Se nas escolas estudássemos as palavras, invadindo-lhes o território, e tivéssemos com elas um corpo a corpo sem pudor, ao invés de ficar analisando (com bocejos de tédio) orações subordinadas, objetos diretos preposicionados, verbos irregulares...


Se tivéssemos a visão de artistas do verbo, como nas palavras de Graciliano Ramos citadas no livro de Irandé (leiamos abaixo, o texto está nas pgs. 91-2 de Território), nós, professores e alunos, leríamos mais e escreveríamos melhor. E esse "mais" e esse "melhor" não precisariam de exames ou provas para receber aprovação.


E agora, Graciliano: 


Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas penduram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever deveria fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.

terça-feira, 13 de março de 2012

Dentro do coração

Coração, na edição
da Cosac Naify, 2011.
Poderíamos brincar com a letra da famosa canção... Livro é coisa para se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração...


Porque volta e meia retomamos autores ou obras que nos marcaram um dia. Dentre os livros que li no início da adolescência, Coração, de Edmondo de Amicis (1874-1908), estava guardado em lugares secretos da alma, ou da mente, ou do próprio coração.


Cuore, na edição
da Autêntica, 2012.
Guardava da antiga leitura uma sensação de leve sofrimento, de angústia contida perante as dificuldades de alunos italianos num tempo longínquo, dificuldades materiais na Europa do século XIX, dificuldades no relacionamento escolar, a dolorosa comparação entre colegas, porque sempre há os colegas mais ricos, os mais pobres, os mais fortes, os mais fracos, os mais inteligentes, os menos...


Guardava sob sete chaves a imagem de professores dedicados, abnegados, e de pais e mães que se sacrificavam pelos filhos, e de garotos tentando entender o porquê da vida...


Mais de 30 anos depois, deparo outra vez com o mesmo livro. Já não é o mesmo, certamente, porque o leitor que eu fui mudou, e muito. Então, tanto a edição da Autêntica (2012) como a da Cosac Naify (2011) chegaram na hora da releitura. É hora de reler o livro. E reinterpretar quem sou.

sábado, 3 de março de 2012

Se estádio fosse escola...

Em minhas viagens ao sertão baiano, neste mês de fevereiro, soube da existência de um professor-compositor-escritor chamado Jorge Portugal. De suas ideias, lutas e palavras.

Um livro seu reúne artigos sobre educação, cultura, arte e política: Se escola fosse estádio e educação fosse copa... (Vento Leste, 2011). São textos combativos, otimistas, preocupados, temperados com o entusiasmo amadurecido de quem, além de dizer o que pensa, atua de acordo com o que diz.

Não pude (desta vez!) conhecer pessoalmente o professor Jorge Portugal, que é também parceiro musical de cantores como Caetano, Gil, Sergio Mendes e Jorge Aragão, e que faz televisão, e ministra palestras... Veja-o aqui.

Mas a leitura tem este poder: agora eu já o conheço, sim, e sei que joga um bolão... na educação.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Quanto custa ou quanto vale um livro?

No Metrô de São Paulo há máquinas que cospem livros. E aceitam qualquer valor. Então, por 2 reais, comprei hoje cedo o romance Fumaça, do escritor russo Ivan Turgueniev (1818-1883). Por apenas 2 reais. Livro novinho: 2 reais.


Foi publicado pela Ediouro (não há uma indicação precisa de data), provavelmente na década de 1980. Está esgotado, mas pode ser encontrado no Estante Virtual.

Num sebo carioca, por exemplo, existe um exemplar disponível, por 12 reais. Ao descrevê-lo, o vendedor avisa que o livro se encontra "em bom estado de conservação, edição brochura com sinais de uso, apresentando um pouco de amarelamento causado pela ação do tempo". Além dos 12 reais, acrescente-se o preço do frete, que pode variar entre 4 e 20 reais, dependendo da urgência do comprador.

Por 2 reais comprei Fumaça.


Não comecei a ler ainda (tantas leituras a fazer!). Sei, porém, que o valor deste livro é muito maior do que o preço estipulado por mim. O livro foi de graça. A valorização será uma decorrência da leitura.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Ler e prazer

Para muitos, ler é sofrer. Associam leitura a tortura. Não se sentem livres perto dos livros. Outros sentem pavor. Outros experimentam o tédio. Uma pessoa me disse certa vez que tinha preguiça de virar as páginas de um livro...


A carioca Heloisa Seixas escreveu O prazer de ler (Casa da Palavra, 2011), livrinho de bolso (e apenas 78 páginas!), que oferece muito mais do que prometem suas reduzidas dimensões.


O prazer da leitura está associado a lugares (livrarias, sebos, bibliotecas...), a pessoas sempre vivas (todos os autores estão vivos), a diversas sensações e emoções: arrepios, entrega, estremecimento, saudade, expectativa, descoberta, generosidade, adoração, sonho, estranheza, susto...


O prazer nem sempre é leve ou ameno. Ler não é algo de somenos. O valor deste pequeno livro de Heloisa Seixas está em nos provocar uma grande vontade de ler mais.


Ler é descobrir — por mais curta que seja a vida, por mais limitados que sejam nossos poderes... ao virar as páginas de um livro estamos movendo mundos.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Carnavaleitura!

Meu carnaval será uma folia de leitura. Vou ver o desfile das escolas literárias.

Quero ler até cair. Batucar os enredos, sambar as metáforas!

Carnavaler. Carnavalivros. Carnavaleitura.

Meus livros estão ansiosos pelo Carnavaleitura aqui em casa!

Sou carnavaleitor há muitos carnavais!

O pandeiro da leitura. A cuíca da leitura. Batucando nos livros até o raiar do dia!

Os livros serão meus adereços neste Carnavaleitura. Sou arlequim no Carnavaleitura.

Mesmo que sozinho, vou para o asfalto no Bloco da Leitura. Todo livro é um carro alegórico!

No Carnavaleitura vestimos todas as fantasias.

Folião, vou folhear muitos livros neste Carnavaleitura. Ler é fuzuê.

No Baile da Leitura todo mundo usando máscaras, a melhor forma de descobrir a própria identidade.

Carnavaleitura: na passarela, livros e personagens, novos enredos, batucada de ideias e imagens a noite toda.

Na Terça-feira Gorda, estar repleto de leituras.

E na Quarta-feira de Cinzas, páginas no chão, fantasias rasgadas, fim da folia.

sábado, 21 de janeiro de 2012

A eterna insatisfação

Estes quadrinhos de Fábio Moon e Gabriel Bá (na Folha de S.Paulo de hoje) me fizeram sentir um animal devorador de livros. Acrescentaria: "Não estou satisfeito com o que eu leio".
Que todos sejam vítimas dessa mansa loucura. Que todos tenham fome de ler. Uma fila de livros à espera da leitura, maior que as centopeias nas agências bancárias em dias de movimento. E apenas uma pessoa na caixa para atender à multidão: você.


Minha fila atual tem — geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros, de Nicholas Carr (Agir), Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas, de Michael Shermer (JSN Editora), As coisas, de Georges Perec (Cia. das Letras), Literatura e gerações, de Julián Marías (Liv. Duas Cidades), O pianista no bordel, de Juan Luis Cebrián (Objetiva), A cortina, de Milan Kundera (Cia. das Letras), Nietzsche, de Rüdiger Safranski (Geração Editorial)...


Não estou satisfeito com o que li, e muito menos com o que ainda não li. Insatisfeito com a quantidade. E com a qualidade. Por melhor que seja o livro... sempre se espera um livro melhor.


E a fila aumentando...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sem braços, sem pernas, e sem... limites

No ano passado, ganhei o livro Uma vida sem limites (Novo Conceito Editora, 2011), em cuja capa está o autor, o australiano Nick Vujicic, um belo rapaz, sem braços, sem pernas, com uma boa história para contar.


A sua história é uma história de superação. Suas vitórias são inspiradoras. Sua fé religiosa é sincera e, graças a essa fé, Nick multiplicou em si mesmo cem braços e cem pernas, para abraçar e percorrer o mundo.


Penso que existe a autoajuda desqualificada e a autoajuda qualificada. Aquela, a desqualificada, está baseada em manipulação, e em linguagem que hipnotiza. Já a qualificada, nasce de uma experiência existencial autêntica.


A qualidade de um livro desse gênero está em não gerar ilusões. Os braços e as pernas não existem. A imagem da capa é forte mas não é chocante. O pescoço de Nick é musculoso, pois ele o exercita para se mover com o máximo de autonomia possível. Ele nada muito bem, como podemos ver no vídeo abaixo.



Possui um SPC (Sistema Pessoal de Convicções), tem uma voz firme e convincente, um estilo. Tornou-se um empreendedor social. Neste ano de 2012, fará 30 anos de idade.

sábado, 7 de janeiro de 2012

A busca da sabedoria no mundo do trabalho

A empresa que só se preocupa em acelerar a produtividade, gerar lucros, ganhar mercados, ultrapassar os concorrentes, colecionar conquistas... é uma empresa que corre muito... corre o sério risco de destruir e destruir-se.


O sucesso de um empreendimento humano não se reduz aos resultados do gerenciamento financeiro, ou das estratégias de marketing, ou das técnicas de venda. A verdadeira qualidade de uma empresa reside na qualidade das pessoas que nela trabalham e das pessoas que dela recebem algum tipo de serviço.


Esta qualidade humana será fonte de produtividade, lucros, mercados, conquistas... e um certo grau de felicidade.


Não são ideias tão absurdas. Estão presentes no livro Filosofia para executivos (Verus Editora, 2009), cujo subtítulo é "a sabedoria de grandes filósofos aplicada ao dia a dia empresarial". O autor é o alemão Andreas Drosdek, jornalista e consultor de empresas.


Um diferencial competitivo para as grandes empresas do nosso tempo é contratar (e ouvir) um Platão de terno e gravata. Em outras palavras: empresas bacanas buscam a sabedoria, ao passo que empresas toscas torcem o nariz quando alguém fala que é necessário pensar mais e correr menos.