sábado, 8 de outubro de 2011

Steve gostava de antever

No dia 5 de outubro, ao saber que Steve Jobs acabara de falecer, comprei O mundo segundo Steve Jobs (Campus, 2011). Essa coletânea de frases, a cargo de George Beahm, mostra como "funcionava" a cabeça deste visionário.

Suas palavras numa palestra para estudantes, em 2005, revelam sua visão a respeito da morte. Ele a via como uma invenção da vida. A vida é inovadora e renovadora. A consciência de que morrer é inevitável pode se tornar fonte de ideias e decisões.

O câncer raro não se manifestou à toa. Um homem incomum, obcecado pelo trabalho, intolerante com a preguiça, amante do ótimo, apaixonado pela qualidade, perseguidor da perfeição, atraído pelas mudanças revolucionárias, vivendo situações-limite, antevendo tudo... tinha de atrair um câncer raro. E câncer no pâncreas, que, do ponto de vista biológico e simbólico, é o órgão que libera toda a energia necessária para que possamos levar o irrealizado ao realizado.

A nossa força é a nossa fraqueza. Steve Jobs tinha muita energia, sabia disso e o dizia com palavras e ações. Muita energia, muita imaginação. Provenientes do pâncreas e do olhar. A certeza da morte é impulso para gastar todas as energias. Todas.

A morte "depura os sistemas, eliminando os antigos modelos obsoletos" (pág. 53). O pâncreas é indispensável à digestão, contribuindo para transformar alimentos em substâncias que darão energia ao corpo. A morte se faz vida. Mas a vida material se esgota. As ideias nascem, brilham, voam, e deixam para trás o corpo em que nasceram.

Steve Jobs não cultivava ilusões. Sabia, por exemplo, que o excesso de informações distribuído pela Web se perde por falta de visão e de leitura, por falta da prática do pensamento. Por isso, talvez, afirmou que trocaria toda a sua tecnologia "por uma tarde com Sócrates" (pág. 83), com quem travaria um diálogo cheio de perguntas e perplexidade.

domingo, 2 de outubro de 2011

Doses de Nietzsche

Entre o pensamento hermético e o diluído, entre o pensamento rarefeito e o banalizado, é possível encontrar reflexão profunda e alcançável, algo sutil e concreto.

É o caso de Nietzsche para estressados, de Allan Percy (Editora Sextante, 2011). Divulgação filosófica na esteira de Lou Marinoff, que recomendou doses de Platão em lugar de Prozac. Autoajuda qualificada.

São 99 doses de filosofia para que os preocupados, assustados, queixosos, ressentidos pensem melhor. Nada do outro mundo. Às vezes beirando o simplismo. Nietzsche talvez ficasse estressado lendo este livrinho. Mas talvez risse, quem sabe?

Afinal, na página 57, Allan Percy atribui a Nietzsche a certeza de que sorrir e estar bem-humorado são terapêuticos: regulam a pressão arterial, reforçam as defesas do corpo contra doenças, aliviam a fadiga, ajudam a relativizar os problemas...