sábado, 31 de dezembro de 2011

Um 2012 de muitas e intensas leituras!

O grande Goethe escreveu que "todo vivente forma em torno de si uma atmosfera".*

Quando as pessoas se aproximam de nós (e nossos textos) sentem, portanto, os ventos das ideias, o ar puro dos argumentos, as tempestades das emoções, os relâmpagos da ansiedade, os trovões do medo, a escuridão da saudade, o crepúsculo das paixões, a aurora de novos projetos, as nuvens dos receios e a brisa do silêncio...


Somos pessoas com diferentes climas e estações, calorosas e frias, outonais e primaveris, chuvosas e áridas, por vezes sufocantes, por vezes amenas.
Que a nossa atmosfera pessoal, mesmo sob a pressão do trabalho e bombardeada pela previsão de catástrofes, seja sempre um espaço para a verdade e para a esperança!


Desejo a você um 2012 de muitas e intensas leituras!
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Johann W. GOETHE, em Máximas e reflexões,  ponto  47. No original: “Alles Lebendige bildet eine Atmosphäre um sich her.”

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal e boas leituras!

Feliz Natal e boas leituras sempre, é o que desejo a quem passar por aqui. A charge de Laerte apareceu hoje, na Folha de S.Paulo:



segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O reencontro com a leitura

O filme Minhas tardes com Margueritte (2010) é um canto ao reencontro com a leitura. O título em francês — La tête en friche — fala de uma cabeça baldia, uma cabeça sem cultivo e sem cultura, como terreno abandonado.

O terreno abandonado foi a inteligência do personagem quando menino. O professor de leitura massacrava o garoto em sala de aula. E a mãe massacrava o garoto em casa. O garoto Germain cresceu e se tornou um homem sem leitura, mas com capacidades de sobra. Gérard Depardieu está ótimo. Seus encontros literários com a velhinha de 95 anos são inesquecíveis. O filme é para rir e para chorar. Excelente chance didática para falar sobre leitura, para além da obrigatoriedade seca dos vestibulares e testes de múltipla desescolha...

A leitura em voz alta, a imaginação viva, o leitor como cocriador, a literatura como instrumento de autoconhecimento, como ocasião de encontro entre as pessoas — imperdível.

Ah, o filme é uma adaptação do romance, com esse título, de Marie-Sabine Roger (1957 - ), autora desconhecida no Brasil.

E um delicioso aperitivo:

domingo, 11 de dezembro de 2011

Um rascunho todo mês

Todo mês recebo em casa rascunho, de Curitiba. A edição deste mês de dezembro traz um excelente artigo de Affonso Romano de Sant'Anna sobre o "excesso" de livros e a falta de leitores. O poeta observa como é diferente nosso hábito de ler do hábito de beber. O governo compra livros, mas é o cidadão que banca a cerveja.

E outras matérias no rascunho, sobre literatura infantil, poesia, tradução, mulheres e a profissão literária, um bom artigo de José Castello sobre Kerouac e Tchekhov, uma resenha sobre Marcelino Freire, enfim, 32 páginas de jornal dedicadas à literatura.

É curioso que a publicação ainda não adote as regras do novo Acordo Ortográfico, regras que ano que vem passam a valer 100%. Mas essa resistência revela, por outro lado, uma vontade de ir contra a corrente, uma rebeldia.

O site do Jornal Rascunho (ligado à Gazeta do Povo) vale a visita.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ecologia humana

O médico e escritor francês David Servan-Schreiber faleceu neste ano de 2011, vítima de câncer. É dele o livro Anticâncer (Fontanar, 2008), que projetou o autor, sobretudo nos Estados Unidos.

Todos têm um câncer dentro de si, à espreita. O estresse, a alimentação errada, a depressão, o ácido da ansiedade corroendo a alma deflagram a doença. David era vítima e herói, cobaia de si mesmo, pesquisador incansável das forças vivas e curativas que também nos habitam.

Escreveu anteriormente Curar (Sá Editora, 2004). Um livro de sabedoria e ciência. E de simplicidade, ainda que lidando com esse "monstro incompreensível" (Pascal) que cada ser humano é. David mistura investigação objetiva, autoconhecimento, confissão pessoal, abertura para o incompreensível. São condimentos importantes no amadurecimento.

E o câncer acabou vencendo? No último livro — Podemos dizer adeus mais de uma vez —, publicado pela Fontanar (2011), encontramos um ser humano, com todos os seus erros, inseguranças e uma imensa capacidade de amar. Venceu o ser humano. Venceu um modo de viver e pensar mais humano e humanizador. Venceu a ecologia humana.

A tradução do título faz refletir. No original, o título On peut se dire au revoir plusieurs fois não nos remete propriamente à noção do "adeus". O "revoir" da expressão francesa envolve um desejo de "rever" em breve a quem amamos. Quem vai partir diz um "até mais ver" e não um "adeus" definitivo.

Por outro lado, o "adeus" no título traduzido em português, além da rima adeus/vez, que soa bem, remete a... Deus. Muito discreto, o autor, com relação ao tema religioso (um ceticismo de fundo está presente), ouve-se porém uma música ao longe. Nota-se, enfim, que os preparativos para a partida de David têm um horizonte cheio de esperança para além do colapso físico.