segunda-feira, 30 de abril de 2012

Se você quiser xingar alguém...

Não aconselho que as pessoas se insultem, mas se você quiser xingar alguém, então faça com propriedade. Consulte o Dicionário brasileiro de insultos, de Altair Aranha (Ateliê Editorial, 2002).

Eu o comprei faz exatamente dez anos, e garanto sua utilidade. Toda vez que alguém me xinga, vou ver o que o xingador queria dizer exatamente...

Em geral, o mentecapto (estou xingando o xingador de alienado e louco) não sabe a definição correta do xingamento que escolheu e comete uma lamentável imprecisão semântica. E isso é grave. 

Cada insulto deve ser aplicado ao insultado na medida certa.

Chamar alguém de e.t. é dizer que o sujeito é muito estranho, mas chamá-lo de bicho-do-mato é afirmar que se trata de uma pessoa retraída, esquisitona.

O camarada que não sabe insultar revela-se um autêntico desbocado! Um xingamento fajuto não presta, e, se não presta, pode acabar se voltando contra o próprio xingador.

Portanto, sejamos honrados e elegantes: xingar direito é um dever do bom topetudo!


domingo, 15 de abril de 2012

Uma poeta polonesa

Li um poema de Wislawa Szymborska (1923-2012) na ocasião em que esta escritora polonesa ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 1996. No ano passado, a Cia. das Letras publicou uma coletânea de seus poemas, com tradução de Regina Przybycien.


A impressão que tive 15 anos atrás se confirmou. A poeta conhece por dentro o drama de termos nascido humanos. Num de seus poemas, bate à porta da pedra. Pede para entrar. A pedra não abre, alegando que está fechada, que não tem portas, que continuará vivendo de costas para a poeta.


Proibida de entrar no mundo da pedra, também não conseguirá entrar no mundo da folha ou da gota d'água. Pior do que estar num beco sem saída é não poder sequer entrar. Recusas experimentamos sempre.


Para ela, há um ou dois poetas em cada grupo de mil pessoas. Dado intuitivo, impossível de contestar ou corroborar. Mas certamente ela é uma poeta.


E vejam este poema:    


                    
As três palavras mais estranhas

                     Quando pronuncio a palavra Futuro,
                     a primeira sílaba já se perde no passado.

                     Quando pronuncio a palavra Silêncio,
                     suprimo-o.

                     Quando pronuncio a palavra Nada,
                     crio algo que não cabe em nenhum não ser.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Um livro animal

A vida de Pi, de Yann Martel (Editora Nova Fronteira, 2010), é um livro animal. No sentido da gíria, porque é um livro fantástico, fora de série, mas também porque trata de animais... e de seres humanos, perigosos animais que somos.


O protagonista é o garoto indiano Piscine Molitor Patel. Seu apelido é Pi, e sua vida gira em torno de religiões e bichos. Pi aprendeu que num jardim zoológico os animais observam os visitantes humanos com tanta ou maior curiosidade do que nós a eles. E não alimenta a ilusão de que javalis, macacos e elefantes, nas jaulas, estejam em situação pior do que na selva, onde predadores, parasitas e outros perigos tornam tão estressante a vida animal.


O livro se torna ainda mais interessante na parte 2, quando, depois de um naufrágio, Pi se vê num bote salva-vidas, no meio do oceano Pacífico, em convivência forçada com uma hiena traiçoeira, uma zebra, uma orangotango e o terrível (e faminto!) tigre de bengala chamado Richard Parker.


É uma aventura mística, afinal, em que se misturam medo e alegria, dúvida e fé, desespero e esperança. O desenlace surpreende.