quinta-feira, 4 de junho de 2015

Não é o livro mais polêmico do ano

No topo da capa de Submissão, de Michel Houellebecq (pela editora Objetiva, com tradução de Rosa Freire d'Aguiar), lê-se que aquele é "o livro mais polêmico do ano". Não, não me parece que seja o livro mais polêmico de 2015. Talvez seja uma boa surpresa deste ano, embora o ano ainda não tenha terminado, e outros melhores livros poderão surgir.

Trata-se de um romance inteligente, sem dúvida. Ousado em alguns momentos. Irônico. Retratando bem uma Europa decadente, mas que não perde a pose.

A vida acadêmica sem graça, a vida amorosa sem futuro, a vida social sem amizade. Antes de converter-se ao islamismo, o protagonista chega ao fundo do tédio:

Dei uma olhada de tédio para minha sala, incapaz de ignorar a evidência de que não sentia o menor prazer com a ideia de voltar para casa, para esse apartamento em que ninguém se amava, e que ninguém amava. (pág. 194)

Descobre-se o porquê do título apenas no final. A mulher deve submeter-se ao homem e o homem deve submeter-se a Alá. "Submissão" é uma das traduções para a palavra árabe islam. O islamismo consiste em submissão, obediência, docilidade à vontade de Alá. E Alá, na história de Houellebecq, deseja conquistar a Europa, evitando pegar em armas, porém.