sábado, 28 de julho de 2012

A dois passos do Paraíso

Jornalistas que sabem pesquisar e escrever podem apresentar bons trabalhos de divulgação (e até de reflexão) sobre temas relevantes e... transcendentes. Um exemplo é Paraíso: nossa eterna fascinação com a pós-vida, de Lisa Miller. O livro saiu pela editora Nossa Cultura, em 2011.

Entrevistando representantes de diferentes religiões, consultando obras e pesquisadores com visões de mundo (e de vida post mortem) divergentes, analisando pinturas e filmes, relatando histórias de gente como a gente, e falando um pouco sobre sua própria realidade religiosa, a autora constata o denominador comum: a maioria das pessoas, mais ou menos conscientemente, está à procura ou à espera do Paraíso.

O contexto norte-americano deste trabalho não poderia ser outro. Jornalistas tendem a ver tudo de um ponto de vista mais concreto e contemporâneo. Não são filósofos. Os leitores brasileiros terão de fazer suas próprias pesquisas e reflexões, pois temos outra história e outras experiências paradisíacas e/ou infernais...

Não é livro de teologia ou espiritualidade, mas serve como um bom ponto de partida.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Apelidos literários

Há dicionários para tudo, mas sempre se pode inventar um novo. Acabei de adquirir o Dicionário de apelidos dos escritores da literatura brasileira, de Claudio Cezar Henriques, pela Editora curitibana Appris (2012).

Apelidos elogiosos como "Pai do Romance Brasileiro" para José de Alencar; ou como "Príncipe dos Poetas Brasileiros", compartilhado por Guilherme de Almeida, Paulo Bonfim, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Olegário Mariano e Menotti del Picchia! Para que tantos príncipes, meu Deus?, perguntaria Carlos Drummond de Andrade (cujo apelido era o "Poeta das Sete Faces")! Mas meus olhos não perguntam nada...


Raquel de Queiroz
E uma segunda pergunta: quem serão os reis e rainhas da poesia? "Rainha das Escritoras Brasileiras" foi o apelido de Raquel de Queiroz.

Outros apelidos são menos nobres... como "Boca do Inferno", para Gregório de Matos, "Ratazana ao Molho Pardo", que Oswald de Andrade inventou contra o poeta Cassiano Ricardo (um caso típico de bullying literário), "Sir Ney" para José Sarney, e um hilariante "Tristinho de Ataúde", para Alceu Amoroso Lima, que usou o nome literário Tristão de Athayde.


Fabrício Carpinejar
Alguns são apelidos que serviriam perfeitamente para mais de um. "Médico-poeta", para Pedro Nava, serviria também no caso de Jorge de Lima. "Grande Poeta das Coisas Pequenas", para Manoel de Barros, cairia muito bem em outro poeta, Manuel Bandeira.

O dicionário também poderia inventar uns apelidos... A título de sugestão, chamar Fabrício Carpinejar de o "Mais Belo dos Feios", e Marcelino Freire seria o "Contista de Sertânia".

Os apelidos de que mais gosto são "Vampiro de Curitiba", para Dalton Trevisan, "Poetinha" para Vinicius de Moraes (que, não me lembro quem, brincando, dizia que era de "Imoraes") e "Dante negro" para Cruz e Sousa.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Sem filosofia... nem pensar!

Vou à livraria e a vejo invadida pela filosofia. Pela divulgação de filosofia, sendo mais preciso.

Com capa amarela "cheguei", desde 2011, está em evidência O livro da filosofia, da Editora Globo. Um livro de vários autores: Will Buckingham, Peter King e outros.

Como de praxe, no início era Tales, nascido em Mileto no século VII a.C. Mas não se restringe aos gregos. Menciona Confúcio e Buda. Como também é de praxe, o período medieval recebe modesta atenção, embora  devamos aplaudir o merecido destaque ao grande Tomás de Aquino.

A partir do século XVI, o desfile tradicional: Maquiavel, Bacon, Descartes, Hobbes, Pascal, Espinosa, Locke, Leibniz, Voltaire, Kant, Hegel, Kierkegaard, Marx, William James, Nietzsche, Husserl, Heidegger, Popper, Sartre, Camus, Wittgenstein, Carnap, Gadamer, Adorno, Levinas...

Um detalhe importante neste livro é a inclusão de nomes mais recentes e não tão conhecidos. São eles: Arne Naess (filósofo norueguês), Mary Midgley (pensadora britânica), Paul Feyerabend (austríaco), Thomas Kuhn, John Rawls e Richard Rorty (norte-americanos), Derrida e Lyotard (franceses), Julia Kristeva (filósofa búlgara), Henry Oruka (filósofo queniano) e Slavoj Žižek (esloveno).

A capa amarelona, com desenhos e frases que sintetizam vários sistemas de pensamento, nos convida a entrar. E, lá dentro, páginas vermelhas, azuis, verdes, diagramação boa, viva, muita ilustração, e as informações essenciais bem explicadas.

Mas a invasão filosófica, ou de iniciação filosófica, continua. Com capas atraentes, em busca de um público que já superou os livros de autoajuda.

Neste primeiro semestre de 2012, vários títulos chegaram e são fáceis de achar... e ler.

Leya lança Filosofia em 60 segundos, de Andrew Pessin, uma vez que o tempo é tão curto, e estamos tão apressados. A Civilização Brasileira lança Casos filosóficos, de Martin Cohen, mostrando a realidade comezinha, tantas vezes mesquinha, por trás dos grandes textos. A Difel lança Um passeio pela antiguidade: na companhia de Sócrates, Epicuro, Sêneca e outros pensadores, de Roger-Pol Droit, palatável. Desse mesmo autor, temos Filosofia em cinco lições, pela Nova Fronteira.


São textos para despertar o ser pensante que há em você, prezada leitora, estimado leitor! São aperitivos para maiores banquetes. Iscas para outros petiscos. Fast-food para posteriores manjares.

Se tiver 60 segundos, leia. Se quiser cinco lições, são apenas cinco. Se quiser passear, pegue sua bicicleta reflexiva. Se quiser ouvir alguns casos, senta... que lá vem filosofia! E, sem filosofia, nem pensar!