terça-feira, 21 de abril de 2015

Livros ao ar livre

Por uma dessas coincidências que não são "meras", estava ontem no Rio de Janeiro, de passagem, e deparei com a tradicional Feira do Livro na Cinelândia. Tentação maior não há ver tantos livros ao ar livre.

As barracas são fragmentos de uma época em que visitar sebos era aventura arqueológica. Agora vendem-se até livros novos! Mas encontrei, por exemplo, por 5 reais, um livro esgotado, cara e capa de alfarrábio. Ele me olhou, pedindo que o levasse dali.

Nem tão velho assim. É de 1995 (publicado pela Paz e Terra, com tradução de Cláudia Schilling). Apenas 20 anos de existência: O que é uma obra?, do polêmico filósofo francês Michel Guérin, autor distante das estantes brasileiras.

E não é que o livro fala de si mesmo?

À medida  que aspira à imortalidade e, portanto, quer o tempo, faz parte da essência da obra expor-se ao perigo. Isso significa ao mesmo tempo que a destruição lhe é extrínseca e que a ameaça de supressão atesta, paradoxalmente, sua integridade. Dado ser a degradação imanente aos objetos de consumo, a abolição da obra, que só pode provir de forças externas, por não poder diminuí-la, engoli-la, só consegue desenraizá-la brutalmente da existência. Não seria um paradoxo? (págs. 82-83)