segunda-feira, 3 de março de 2014

Economia e humanismo

Um bom "esporte": descobrir autores praticamente esquecidos e procurar recontextualizá-los. É o caso do economista tcheco Eugen Loebl (1907-1987). Alguns livros seus foram traduzidos para o português entre as décadas de 1970 e 1980. Sua proposta humanista, crítica, baseada em pesquisa mas também em prática política (exerceu funções importantes em seu país, antes de exilar-se nos Estados Unidos), não agradava nem aos capitalistas, nem aos socialistas, nem aos comunistas. Foi um pensador independente, e talvez por isso (indevidamente) abandonado.

Já escrevia Loebl no início do seu Libertação da pobreza (pág. 1): 

Há hoje cerca de 35 milhões de pessoas vivendo abaixo do nível de pobreza nos Estados Unidos, a nação mais rica do mundo. O padrão de vida das pessoas sob o sistema econômico norte-americano é o mais alto do mundo. Não obstante, é visível a fragilidade desse sistema no qual, em meio a tal riqueza, 12,5% da população vivem na pobreza.

No Brasil, a maior e mais importante nação da América do Sul, há também grande riqueza. No entanto, numa população de aproximadamente 130 milhões, 75% vivem num nível de pobreza incomparavelmente mais baixo que esse nível nos Estados Unidos.

No mesmo livro, explica que a União Soviética praticava o "capitalismo absoluto" (págs. 22-3):

Nós resumiríamos a diferença entre o modelo marxista de uma economia planificada e a livre-iniciativa do seguinte modo: a economia soviética como um todo é, na verdade, uma única empresa. Ela é gerada por uma diretoria - o centro de planejamento. As empresas estatais são, todas, apenas algo como filiais desse grande órgão central - são orientadas pela mesma filosofia. [...] Qualidades humanas, talentos humanos - mentais e físicos - simplesmente não contam. [...] Não se pode nem mesmo chamar a essa economia de "capitalismo de Estado" porque essa gigantesca empresa pertence a um único dono - o Politburgo, o comando do Partido.

Segundo Loebl, o marxismo subestimava a criatividade humana e, por isso, também não se demonstrou uma boa solução para o problema da pobreza.

Libertação da pobreza foi publicado no Brasil pelas Edições Excelsior em 1985. Outro livro de Loebl, A sociedade responsável (em coautoria com o empresário tcheco Stephen Roman), saiu pela Editora Mestre Jou (1981). O instigante A humanoeconomia: como poderemos fazer com que a economia nos sirva e não nos destrua surgiu em 1976, pela José Olympio.

Na conclusão do livro A sociedade responsável, Loebl e seu compatriota Roman parecem estar falando do nosso tempo. Passaram-se mais de 30 anos, e suas palavras e sua perplexidade são atuais (pág. 203):

Vivemos hoje em uma das sociedades mais refinadas que o homem pôde edificar em todos os tempos. Atingimos as maiores alturas de inteligência e alcançamos mais conhecimentos do que em qualquer período anterior da história. Gostaríamos de acreditar que a nossa civilização é a maior até hoje conhecida. Entretanto, vivemos em medo constante, ansiedade constante, agitação constante. Por que será que o homem, com toda a experiência e conhecimentos que adquiriu ao longo dos séculos, é incapaz de produzir uma sociedade que elimine essas forças negativas? Por que é que parecem aumentar em vez de diminuir?

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