quinta-feira, 21 de abril de 2011

Canibalismo literário

Um livro estranho, de Nestor de Holanda (1921-1970), jornalista e escritor pernambucano: Seja você um canibal. Há um título alternativo conexo: Aprenda a comer os amigos e os inimigos. Da Editora Letras e Artes, publicado em 1964.

O autor ainda pensou em outro título, A antropofagia ao alcance de todos. Os textos são de humor, envolvendo assuntos e personagens que estavam em evidência na época: Garrincha, Carlos Lacerda, Filinto Müller, Juraci Magalhães, Aliomar Baleeiro... Receitas para devorá-los. A distância no tempo e o contexto esquecido diminuem a chance de alguém, hoje, achar graça na leitura.

Contudo, um ou outro texto está mais próximo de nós. Por exemplo, quando se refere a Juscelino Kubitschek, às suas constantes viagens, e à construção de Brasília. Recomenda que o ex-presidente fosse saboreado na forma de Salada de Peixe Vivo. Vale lembrar: a canção Peixe Vivo, de que Juscelino gostava muito, era uma espécie de hino com que o povo o saudava. As 300 mil pessoas que estavam no seu funeral, em 1976, despediram-se do político com essa canção.

Transcrevo, respeitando a ortografia de 1964:

JUSCELINO KUBITSCHEK
Salada de Peixe Vivo

Misture o Peixe Vivo com batatas cozidas e môlho de maionese.

A arrumação no prato deve seguir o estilo arquitetônico de Oscar Niemeyer. As fôlhas de alface, em feixe, ao centro, lembrando a Catedral e o Senado. As batatas devem rodear o Peixe Vivo, cortadas em curvas, com as pontas para cima, como a fachada do Palácio Alvorada.

Fica um prato simpático.

Jogando, por cima, boa quantidade de polvilho, dá idéia de poeira do Distrito Federal, o que torna a decoração mais a caráter.

Difícil, apenas, é encontrar o peixe, no meio de tudo. Êle está sempre ausente do prato. Porque é peixe voador, e, como a Felicidade de Vicente de Carvalho, "está sempre, apenas, onde o pomos e nunca o pomos onde nós estamos"...

De qualquer maneira, a Salada de Peixe Vivo agrada à vista. E muita gente a prefere talvez por ilusão de óptica...

Um escritor de hoje poderia retomar a ideia canibalista e preparar alguns pratos atualizados. Seria um banquete e tanto! Algumas sugestões para quem tiver talento culinário-literário: um Lula cremoso, Marina ao molho verde, Aécio ao vinho, um FHC em pedaços, Bolsonaro à nazi, Alckmin com chuchu etc.

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