domingo, 17 de julho de 2011

Paralaxes para pensar

Ler autores difíceis e exigentes é uma forma de, não os entendendo em totalidade e com imediatez, ter uma noção mais clara do "perigo".

Slavoj Žižek desperta estranhezas, perplexidades. Como intrigante, para um leitor brasileiro, é esse "z" sobre o qual aparece um circunflexo de cabeça para baixo, "ž", no começo e no meio do sobrenome do filósofo esloveno. Este sinal diacrítico inexistente em português questiona os meus "alfabetismos"...

Juntar/articular o pensamento de Marx e o de Lacan é uma de suas principais estratégias de análise da conjuntura política, do comportamento humano, da cultura contemporânea.  A vivacidade e o nervosismo de Žižek, ao escrever, são inspiradores. Levam a uma certa vertigem. Ler seus textos é beber sucos exóticos.

As 500 páginas de A visão em paralaxe (Boitempo, 2008) puxam, levantam, empurram, fazem correr, fazem parar. A paralaxe consiste no deslocamento aparente de um objeto quando o ponto de observação é alterado. Então, Žižek me leva a observar as mesmas coisas de outros modos.

Exemplo? Pensemos no polvo. O que o animal polvo simboliza. Em termos de metáfora política típica do século passado, o polvo e seus tentáculos falam do sistema capitalista que espreme e sufoca os trabalhadores. Em termos religiosos, Pe. Antônio Vieira via no molusco a imagem do traidor, do próprio Judas.
É possível, alterando o ponto de observação, procurando colocar-se numa outra atitude, deslocar a imagem do polvo e reinterpretá-la de um modo, digamos, mais positivo? O polvo simbolizando eficiência no trabalho (oito tarefas ao mesmo tempo com seus oito braços), ou abertura para novos trajetos (oito pés agora)?

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