Irandé Antunes |
Na terra dos homens, há o território das palavras. E na vida escolar, as palavras entram e saem. Muitas andam mais quietas (o Novo Acordo Ortográfico foi um choque para todos), outras são barulhentas, violentas, algumas são nojentas, outras correm contra o vento.
Estudar o idioma não é estudar somente, nem prioritariamente, a gramática normativa. A língua se arrasta, pula, faz careta, transforma-se, mente, mexe com nossa mente.
Se nas escolas estudássemos as palavras, invadindo-lhes o território, e tivéssemos com elas um corpo a corpo sem pudor, ao invés de ficar analisando (com bocejos de tédio) orações subordinadas, objetos diretos preposicionados, verbos irregulares...
Se tivéssemos a visão de artistas do verbo, como nas palavras de Graciliano Ramos citadas no livro de Irandé (leiamos abaixo, o texto está nas pgs. 91-2 de Território), nós, professores e alunos, leríamos mais e escreveríamos melhor. E esse "mais" e esse "melhor" não precisariam de exames ou provas para receber aprovação.
E agora, Graciliano:
Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas penduram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever deveria fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.
Muito bom! Lembrou-me o 'Gigolô das palavras'! Pelas dicas que o senhor dá professor, a estante que tenho aqui ficará ainda mais pesada com os livros que estou comprando [e os que ainda comprarei]. Abraços!
ResponderExcluirGostei dos textos, em especial o que fala dos caminhos da escrita, comparando-os ao trabalho das lavadeiras. Perfeito.
ResponderExcluirUm ótimo dia, professor.