No dia 5 de outubro, ao saber que Steve Jobs acabara de falecer, comprei O mundo segundo Steve Jobs (Campus, 2011). Essa coletânea de frases, a cargo de George Beahm, mostra como "funcionava" a cabeça deste visionário.
Suas palavras numa palestra para estudantes, em 2005, revelam sua visão a respeito da morte. Ele a via como uma invenção da vida. A vida é inovadora e renovadora. A consciência de que morrer é inevitável pode se tornar fonte de ideias e decisões.
O câncer raro não se manifestou à toa. Um homem incomum, obcecado pelo trabalho, intolerante com a preguiça, amante do ótimo, apaixonado pela qualidade, perseguidor da perfeição, atraído pelas mudanças revolucionárias, vivendo situações-limite, antevendo tudo... tinha de atrair um câncer raro. E câncer no pâncreas, que, do ponto de vista biológico e simbólico, é o órgão que libera toda a energia necessária para que possamos levar o irrealizado ao realizado.
A nossa força é a nossa fraqueza. Steve Jobs tinha muita energia, sabia disso e o dizia com palavras e ações. Muita energia, muita imaginação. Provenientes do pâncreas e do olhar. A certeza da morte é impulso para gastar todas as energias. Todas.
A morte "depura os sistemas, eliminando os antigos modelos obsoletos" (pág. 53). O pâncreas é indispensável à digestão, contribuindo para transformar alimentos em substâncias que darão energia ao corpo. A morte se faz vida. Mas a vida material se esgota. As ideias nascem, brilham, voam, e deixam para trás o corpo em que nasceram.
Steve Jobs não cultivava ilusões. Sabia, por exemplo, que o excesso de informações distribuído pela Web se perde por falta de visão e de leitura, por falta da prática do pensamento. Por isso, talvez, afirmou que trocaria toda a sua tecnologia "por uma tarde com Sócrates" (pág. 83), com quem travaria um diálogo cheio de perguntas e perplexidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário