É conhecida aquela brincadeira de Ferreira Gullar. Que ele entendeu e aderiu ao marxismo ao ler um livro escrito por um padre católico, em cuja primeira parte se expunha com clareza a doutrina marxista. A intenção do autor era condenar o pensamento de Marx na segunda parte do livro, mas antes cabia explicar o condenável. Gullar só leu a primeira parte... e aderiu ao marxismo graças à honestidade intelectual do padre.
Terry Eagleton, citando Tomás de Aquino, condena as críticas ateístas que não entendem o que há de revolucionário no cristianismo. E não foge ao diálogo inteligente com a teologia, para a qual migraram, diz ele, discussões animadas envolvendo temas relevantes e autores como Heidegger, Foucault, Deleuze e o próprio Marx...
Há passagens inspiradoras neste livro. Numa delas, Eagleton denuncia o otimismo patológico do que restou do sonho norte-americano: "o céu é o limite", "nunca diga nunca", "querer é poder", "nós podemos"... Isso, deduzo, em contraste com a fé e o otimismo cristãos, que nos ensinam a lidar com o despojamento, o fracasso e a morte.
Noutro momento, esse trecho (págs. 127-8):
O racionalista tende a confundir a tenacidade da fé (a fé de terceiros, pelo menos) com a teimosia irracional, em lugar de vê-la como o sinal de certa profundidade interior, que abrange a razão, mas também a transcende.
Nenhum comentário:
Postar um comentário